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[Entrevista] “Temos alguns problemas internos” diz Andrew Craighan sobre os shows recentemente cancelados; saiba mais!

Em entrevista exclusiva para o nosso site, o guitarrista e criador do My Dying Bride, Andrew Craighan, fala sobre a história da banda, as dificuldades no início da carreira, o lançamento do mais recente álbum A Mortal Binding e as chances de uma turnê mundial



O My Dying Bride é uma banda de death doom metal da Inglaterra que foi criada nos anos 90 pelo guitarrista Andrew Craighan e o baterista Rick Miah, esse que acabou deixando a banda alguns anos depois. Na época eles se uniram a Aaron Stainthorpe que trouxe ainda mais um estilo único para banda com uma habilidade de modificar sua voz para notas mais graves, agudas e poderosos guturais. Além de ser um dos principais compositores das letras.

Após 33 anos de banda, seus membros estão prontos para lançar o mais recente trabalho da banda, o álbum A Mortal Binding. Entretanto, não há nenhuma agenda de turnê para a divulgação desse trabalho.

Para falar sobre o novo álbum, a criação da banda, as dificuldades em ser músico e se há planos de alguma turnê, nossa jornalista Tamira Ferreira entrevistou o guitarrista Andrew Craighan e você pode conferir tudo abaixo:

Tamira: Olá, como você está?

Andrew:  Muito bem, obrigado, como você está?

Tamira: Estou ótima! Muito obrigada por essa entrevista.

Andrew: Eu estou olhando para o seu fone de ouvido (ele é rosa e com orelhas de gato). Eles são excepcionais (risos).

Tamira: Eu entrevisto muitas bandas de metal e todo mundo fala sobre o meu fone, eu adoro isso.



Andrew: É uma ótima forma de quebrar o gelo, com certeza!

Tamira: Sim! (risos) Vamos começar! A banda foi criada em 1990, você saiu de outra banda e acabou criando o My Dying Bride. Como que surgiu a ideia de criar uma banda que mistura diferentes estilos como gótico, doom e death?

Andrew: Não foi um plano direto, eu não posso fingir que existia um plano, não éramos tão inteligentes. Mas as nossas influências naquela época eram muitas, nós éramos grandes fãs de death metal, também éramos fãs de rock, nós viemos disso. Nós também estávamos encontrando bandas como Celtic Frost, Bathory e Candlemass. Você imagina esse caldeirão de heavy metal e nós éramos jovens tentando a nossa própria versão de uma banda de heavy metal.

Terminamos não soando como nenhuma deles, mas de um jeito que acabou criando algo único para nós, não por acaso, mas tínhamos uma ideia de que queríamos ser mais lentos, nós gostávamos disso. Além disso, foi uma combinação da música que estávamos ouvindo, que estava sendo criado na época. Nós fomos muito sortudos que conseguimos ficar no meio e sugamos tudo.

Tamira: E vocês acabaram escapando um pouco do que estava vindo de bandas de rock e heavy metal na época. Como foi esse período para vocês quando começaram?

Andrew: Nós estávamos, de alguma forma, longe da cena que estava sendo criada a nossa volta na Europa, América e na Inglaterra também. Não fomos os primeiros, mas foi difícil no começo porque ninguém entendia o que era My Dying Bride. Nós tínhamos o violino, teclado. E mesmo em Celtic Frost, eles eram clássicos esquisitos, nós também éramos. Não cabíamos em lugar nenhum.

Na Inglaterra, particularmente, nós tivemos dificuldades. Ninguém se importava, eles queriam ver Napalm Death e Carcass. O que é compreensivo porque a gente também queria.

Porém, quando a gente apareceu, eles acharam muito lento, muito tedioso e ninguém ligava. Foi quando a gente começou a tocar pela Europa, eles eram muito diferentes, o público, especialmente da Holanda, Bélgica, Alemanha e França, provavelmente nessa ordem, eles gostavam muito. Eles conversavam com a gente e nos fazia sentir muito bem-vindo.



O efeito de tocar na Europa, logo depois de Paradise Lost, eles tocaram meses antes de nós e o seguimos. Então quando voltamos para a Inglaterra, os fãs e a imprensa inglesa não poderiam nos ignorar porque estávamos fazendo sucesso, não gigantesco, mas estava dando certo na Europa e eles tiveram que prestar atenção em algo que eles não queriam.

Então a cena cresceu, nós crescemos e todas as bandas a nossa volta. Foi difícil no começo, mas estamos em uma cena pequena e nós fomos sortudos por começar no tempo certo de tudo.

Tamira: Você disse em entrevistas que você era mais rebelde no início da banda, principalmente nas decisões que tomava. O que acabou levando a banda a esse estilo único, eu acho. Mas você acabava perdendo certas batalhas na hora de tomar decisões. Você acha que hoje é mais fácil expressar suas ideias e seguir sua mente criativa? Ou é diferente depois de 30 anos?

Andrew: São as duas coisas: é diferente e mais fácil. Aperfeiçoei minha tomada de decisão para que não seja tão reativa.

É claro que após 30 anos a banda desenvolveu uma identidade que até eu entendo agora (risos). No começo não sabíamos quem éramos, mas agora sim, não tem como ignorar isso agora. Então é mais fácil para mim de planejar, criar e expressar o que o My Dying Bride é.

Algumas das decisões que a gente tomou quando éramos muito mais novos eram estranhamente rebeldes contra o que era o heavy metal que a gente amava. Eu não sei porque fazíamos isso.

Então fazíamos músicas longas porque todo mundo estava fazendo músicas curtas. Fazíamos músicas muito lentas porque o Death Metal estava fazendo músicas muito rápidas. E nós meio que, eu não sei, apenas sendo um pé no saco de todo mundo, eu acho, tentando ser diferente por ser diferente.

Às vezes dava certo, às vezes não, e a gente aprendeu rápido o que não fazer.



Mas agora é mais fácil para eu fazer, não sou mais do contra. Eu não estou lutando… Na verdade, não estou lutando com ninguém, porque sabemos o que é o My Dying Bride e estamos confortáveis agora em nossa própria pele. Considerando que naquela época ainda estávamos lutando para descobrir quem éramos.

Tamira: Uma coisa que realmente me chama a atenção na banda são as letras. Como é o seu processo de composição? Você cria primeiro as melodias e depois as letras?

Andrew: Nessa fase, nós completamos as músicas sem letras. Nem sempre foi assim.

Começou quando nós lançamos um álbum em 2000, The Light at the End of the World. E ficamos tão sintonizados com a forma como operamos que não precisamos das letras ou dos vocais para ensaiar.

E com a moderna tecnologia de gravação, se precisássemos alterar alguma parte importante, posso fazer isso usando ferramentas profissionais, o que nem é mais trapaça. Então, nós simplesmente sabemos o que estamos fazendo quando se trata de música, bem, meu aspecto é o lado musical.



Eu escrevi letras para a banda no passado, algumas em Feel The Misery e escrevi uma em The Ghost of Orion, mas eu não escrevo a maioria das letras. Nós deixamos para o Aaron Stainthorpe, predominantemente.

Nós o mandamos a músicas, mas ele pode se sentar em casa e saber o que está por vir. Não há como evitar o fato de qual tipo de música ele receberá quando finalmente recebe.

Portanto, seu tipo de perspectiva lírica não mudou muito. Suavizou um pouco. Não é assim, qual é a palavra? Não é tão camuflada como costumava ser. Costumava haver muita metáfora, agora é um pouco mais direto, mas ainda é muito em nosso reino escuro e do doom. E então, quando os dois se encontram (letra e melodia), eles tendem a se encaixar. Trabalhamos no estúdio com muita facilidade.

Tamira: E de onde vem esse interesse por temas mais sombrios que falam de morte, tristeza e melancolia? Posso dizer que tem até uma visão ultrarromântica que une amor e morte? De onde vem o interesse por esses assuntos? Vem diretamente do Aaron ou é algo que todos vocês gostam?

Andrew: Somos predominantemente eu e Aaron. Em menor grau, alguns dos outros membros, no lado musical. E tem sido um fascínio, vamos dizer, eterno.



Você sabe, não é realmente algo que você possa dizer: “Ah, eu gosto disso por causa disso”. Nós particularmente não gostamos de sentir saudades e de ser infelizes ou algo assim, mas gostamos bastante de vê-los sendo criados nessa atmosfera.

Por exemplo, no novo disco, temos uma música chamada The Second of Three Bells, que é a nossa versão de uma marcha fúnebre. Não particularmente um tema feliz, mas nós amamos essa música.

Tamira: É a minha favorita do álbum.

Andrew: Tem algo nessa canção, não sabemos o que. Nós apenas criamos algo que nós apreciamos essa miséria, mas não queremos viver isso. Nós gostamos desse escapismo que é como se fossemos transportados para o passado quando as igrejas tocavam os sinos quando as pessoas morriam. E aqui estamos novamente.

Nós apreciamos o escapismo e essa licença artística que somos permitidos, mas não queremos viver isso.

Tamira: No começo do ano eu entrevistei o Eicca do Apocalyptica e ele disse que compor músicas tristes pode ser algo que o faz sentir melhor. E eu sinto que ouvir músicas tristes acaba me fazendo sentir melhor. Eu acho que é um ponto de vista legal para esse tipo de música.

Andrew: Acho que o que acontece é que de repente você não está sozinho. Esses rapazes ou garotas estão passando pela mesma coisa e conseguiram capturar isso na música e às vezes eles podem te animar, às vezes podem fazer você se sentir pior, o que é uma boa expulsão. Você pode passar por isso dessa maneira.

Não estou fingindo que nossa música é algum tipo de terapia, mas muitas pessoas disseram que os ajudou em tempos difíceis, algo que nunca poderíamos ter previsto, mas que parece acontecer.

Então de repente você se pega participando e você meio que se deleita com sua própria miséria por um instante. E então, depois da música, você sente um pouco melhor sobre isso.

Tamira: Sim, é muito poderoso! O poder da música. Vocês lançarão o novo álbum A Mortal Binding esta semana. O que os fãs podem esperar deste álbum?



Andrew: “Joyous misery” (Miséria alegre).

Na verdade, acho que a maioria das pessoas não tem ideia de onde esse álbum está indo, provavelmente ficará surpreso com o quão diretas algumas das músicas são.

Nós, deliberadamente, tentamos fazê-los com riffs pesados, torná-los um álbum de heavy metal, no estilo My Dying Bride, mas ainda assim heavy metal com grandes riffs.

Então, em alguns lugares, é bastante poderoso e bastante pincelado. E em outros temos o que consideramos a elegância sombria de uma típica música do My Dying Bride.

Tamira: Sim, estava ouvindo álbum hoje e é o que mais vai em uma direção diferente do doom metal. Eu acho que é mais pesado e rápido. E os vocais são incríveis! As mudanças vocais em The Second of Three Bells que vai de uma voz mais profunda para um scream é realmente bonito. Parabéns!

Andrew: Obrigado!

Tamira: O álbum já conta com dois singles lançados: Thornwyck Hymn e The Second of Three Bells. Eles são muito diferentes um do outro e acho que é um bom spoiler para o álbum. E tem excelentes videoclipes. Eu acho que a gente poderia falar deles. Como foi o processo de criação e produção dos clipes?

Andrew: Primeiro passo foi a Nuclear Blast disse que tínhamos um orçamento pequeno, mas achavam que conseguiríamos fazer dois vídeos dele.

Porém gastamos a maior parte dele no primeiro vídeo, o que foi um erro, mas eu já te explico em um minuto.

A banda não conseguia decidir qual música seria o primeiro clipe, então a Nuclear Blast disse para fazer Thornwyck Hymn porque eles gostaram dela. Foi o que fizemos.

A parte mais difícil é fazer o clipe se conectar com as letras e o que está na música porque ela é um tipo do conto que tem na Inglaterra que fala sobre uma parte da costa inglesa que é perigosa para marinheiros e eles criaram esse mito de sereias que arrastam os marinheiros para as profundezas. E nós gostamos disso, então fizemos uma canção a respeito.

E tentamos não necessariamente reviver isso, mas tentar replicar ou dar alguma essência no vídeo que foi filmado dentro de um trilho. É como um estúdio onde a água cai sobre todo mundo o tempo todo e as câmeras estão ali no meio. Então foi muito interessante.

Não sei se a gente conseguiu, mas o vídeo é interessante de se assistir.

Tamira: É um clipe muito bonito.



Andrew: Em The Second of Three Bells, o que eu considero ser uma marcha funeral de alguma forma, nós queríamos trazer a banda de volta. Nós tivemos pessoas que vieram nos dizer que gostariam de ver a banda tocando. Mas nós esquecemos sobre isso.

Então nesse nós tentamos colocar a banda em um local interessante com uma estranha trapezista fazendo algumas acrobacias o que representa a morte vindo para roubar a sua alma.

E nós apenas filmamos a banda. Nós fizemos de uma forma legal e tranquila para que as pessoas possam nos ver, sem cortes rápidos, filmando momentos interessantes e fazendo a banda parecer legal.

Eu andava falando para eles: “Apenas nos faça parecer legais porque não somos, então vai ser um trabalho difícil”. (risos)

Nós gostamos muito porque não estivemos em um vídeo como esse por muitos anos. Eu estava particularmente focado que esse seria.

E quem trabalhou no vídeo, esse cara chamado Daniel Gray, uma mente brilhante, ele realmente entendeu o que a gente estava tentando fazer.

Considerando que não tínhamos muito dinheiro para gastar, nós conseguimos os dois vídeos que poderíamos. Estou muito orgulhoso deles.

Tamira: Vocês acabaram cancelando um festival nos Estados Unidos e não há datas para mais shows em 2024. Existe algum motivo para esses cancelamentos e chances de a banda sair em turnê para divulgar esse álbum? Talvez tocar no Brasil?



Andrew: Eu vou te responder a primeira parte. Os cancelamentos são lamentáveis, mas necessários neste momento. Há, quero dizer, a declaração do Maryland Deathfest foi um pouco, direi que na hora errada, divulgado por ambição. Eu realmente disse isso, mas agora é tarde demais.

Temos alguns problemas internos, digamos, para resolver, que não são tão graves, mas eles vão significar que algumas pessoas ficarão indisponíveis por determinados valores de tempo. Vamos deixar um comunicado.

Bem, é complicado até para mim. Não tenho permissão para dizer nada ainda, o que também estou tentando dizer a você no momento, ao mesmo tempo, o que torna tudo difícil.

Então teremos um comunicado adequado em breve e abriremos alguns esclarecimentos.

Quando superarmos isso, e tenho certeza que conseguiremos, resolveremos nosso tipo normal de problema de rotina. O que não é, mas de qualquer maneira não conversamos sobre com muita frequência.



Então, quero dizer, é provavelmente por isso que quando fomos forçados a cancelar shows como este, chama atenção. Mas vamos nos recuperar disso, vamos superar isso.

E então, se surgirem oportunidades, vocês nos verão aí no Brasil novamente. Já tocamos aí uma vez, o que foi provado que isso pode ser feito. Nós nos divertimos muito aí.

Um dos problemas é que a banda não é nosso principal trabalho, nós temos que trabalhar e isso acaba dificultando bastante.

Tamira: E como você vê o futuro do My Dying Bride?

Andrew: Eu realmente não penso a respeito. Se você tivesse me sugerido que estaríamos aqui conversando 33 anos depois, eu nunca acreditaria.

Por enquanto, vamos lançar um álbum na sexta, isso será muito divertido e esperamos que todos gostem, os fãs de qualquer forma.

Depois disso temos um EP para terminar, estamos trabalhando nisso agora. Então vamos lidar com isso. E posteriormente, talvez, quem sabe, vamos nos recuperar e resolver o problema de vida que temos.

Então é isso, damos um passo de cada vez porque estamos numa posição em que, infelizmente, não podemos lançar um álbum e então dizer: “Ok, faremos uma turnê mundial agora”. Quero dizer, poucas bandas conseguem fazer isso. Certamente não podemos.

Então o álbum, EP, resolver o problema da vida e depois passaremos para outra coisa.

Tamira: Essa foi a nossa entrevista. Muito obrigada por responder as minhas perguntas e espero que a gente se veja em breve no Brasil.

Andrew: Sim, eu também! Será legal se pudermos voltar para aí. Obrigado!

Novo álbum do My Dying Bride será lançado na sexta, 19 de abril pela Nuclear Blast. Confira todas informações aqui.

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