[Bangers Open Air] Aquecimento na sexta traz gigantes do metal e surpreende com bandas que estão surgindo
Primeiro dia do maior festival de metal do Brasil entregou shows grandiosos nos preparando perfeitamente para o que vinha
O aquecimento para o Bangers Open Air que aconteceu na sexta (2) só tem essa ideia no nome mesmo porque nos foi entregue um dia de festival impecável e com tudo que tem direito.
Kissin’ Dynamite

Começando pontualmente todos os shows, já somos surpreendidos por um dos nomes do hard-rock alemão, o Kissin’ Dynamite. E mesmo que eles tenham essa responsabilidade de abrir o festival, isso não abateu seus músicos que entregaram um show animado, agitado e cheio de carisma.
Formada por: Johannes Braun (vocalista), Ande Braun (guitarra), Jim Müller (guitarra), Steffen Haile (baixo) e Sebastian Berg (bateria), a banda fazia a sua estreia em terras brasileiras e mostravam o tempo todo a felicidade em estar aqui.
Os integrantes olhavam atentamente para todos que estavam na plateia, interagiam com o público e constantemente solicitavam aos fãs que estavam ali que cantassem, batessem palma ou pulassem junto com a banda.
Até o calor intenso que fazia as três horas da tarde não abalou os europeus.
Mesmo sendo uma banda de hard-rock e com toda a temática de sexo, drogas e rock n’ roll, o Kissin’ Dynamite ganha seu público com uma musicalidade primorosa, o instrumental de qualidade e a voz característica de Johannes que vai do grave mais baixo à agudos em drive que são tradição do estilo.
Não foi preciso grandes firulas que se costuma ter com bandas desse estilo para conseguir seduzir a plateia. A animação dos músicos e seu som era o suficiente para quem estava ali. Johannes andava de um lado para o outro e interagia com todos os fãs como se estivesse em uma pequena casa de show. Ele também pulava do palco para a caixa de som a fim de ficar mais perto de todos. Enquanto os outros membros eram só sorrisos para o público e incentivavam a todos para participarem daquela festa.
Em resposta, a plateia atendia a todos os pedidos da banda e muitos que estavam ali para verem outros artistas foram atraídos pelo seu som e carisma.
Mesmo com um show curto, abrindo o festival, já conseguimos ter um gosto do que é o Kissin’ Dynamite e uma vontade e ver o que mais a banda consegue entregar.
A apresentação termina com Raise Your Glass e um último convite para que todos levantem suas bebidas a fim de celebrar aquele dia e a festa do metal que São Paulo estava recebendo.

Setlist Kissin’ Dynamite:
Back With a Bang
DNA
No One Dies a Virgin
I’ve Got the Fire
My Monster
The Devil Is a Woman
Not the End of the Road
You’re Not Alone
Raise Your Glass
Dogma
Após a saída do Kissin’ Dynamite, as atenções se voltaram para o palco ao lado onde quem se preparava para entrar era o Dogma.

Formada por: Lilith (vocais), Lamia (guitarra), Nixe (baixo) e Abrahel (bateria), era a segunda vez que o Dogma se apresenta no Brasil. Elas também estarão em turnê pelo país durante o mês de maio.
Com uma proposta bem teatral e performática, a banda formada apenas por mulheres vestidas de freiras sexy trazem em suas músicas e performances a apelação existente em cima do corpo feminino e como os julgamentos são trazidos para as mulheres. Com isso, elas pregam a liberdade de você ser e fazer o que quiser. Aliás, fanatismos não são permitidos no testamento da banda.
O show começa com um vídeo onde se satiriza as pessoas que aceitam qualquer forma de ridicularização para estar na internet. São várias cenas vindas da internet que mostram como é superficial e estúpido o que as pessoas fazem para ter fama ou para chamar atenção de alguma forma.
Após a apresentação do vídeo, as integrantes entram ao palco com roupas bem justas, véu de freira e uma maquiagem impecável como se parecessem bonecas. É como se elas não fossem mulheres de verdade.
Uma apresentação provocativa e muito bem ensaiada, era quase como ver uma peça de teatro musical onde os personagens cantam sobre suas frustrações e desejos, ao mesmo tempo tendo que lidar com preconceitos e proibições.
O show do Dogma foi um dos mais comentados dentro do festival e até mesmo nas redes sociais, mas tudo voltado ao machismo e sexualização de suas integrantes. Toda vez que uma mulher usa seu corpo para uma expressão artista ou para causar algum impacto em suas apresentações, ele acaba sendo mal interpretado para algo de satisfação masculina ou como se sua arte não tivesse importância.
Também foram muito comparadas ao Ghost, o que é de praxe no mundo patriarcal que vivemos onde uma mulher nunca consegue criar o seu próprio espaço, ela sempre precisa ficar a sombra de outros homens, então sempre serão a versão feminina e diminuída de um homem.
A ideia de unir a sexualidade feminina com a igreja vem dessa constante ideia de proibir e punir a mulher por suas ações e desejos em uma sociedade que tudo que vem das mulheres é errado e pecaminoso. O Dogma usa isso de forma escancarada em suas músicas e performances, mas ainda é mal-entendido por quem assiste seus shows ou videoclipes.
Talvez se um homem explicasse isso para as pessoas seria mais bem entendido.
Mas voltando para o Bangers, a apresentação do Dogma foi impecável seja em sua qualidade no instrumental, seja na voz de Lilith. A banda tem uma sonoridade que passa por diferentes fases do rock e heavy metal, começando com o hard-rock dos anos 80, passando pelo metal melódico dos anos 2000 e indo até o metal moderno que é o hype atual.
Se você gosta de uma banda que toca sempre o mais do mesmo, não achará isso no Dogma.
A única coisa que foi bem incômoda durante o show delas, e se prolongou por algumas apresentações durante o festival, foi a altura do som da bateria que era possível sentir as batidas do bumbo até que fisicamente. Estava bem difícil assistir o show de frente do palco, sendo melhor ver tudo de lado para não sentir o som estourado da bateria.
Tirando esse problema, o show do Dogma foi, com certeza, um dos mais grandiosos daquele dia e comprovou que a ideia de esquenta para o festival era apenas um nome e a sexta pode sim ser considerada um dia de apresentações exemplares e monumentais.

Setlist Dogma:
Forbidden Zone
My First Peak
Made Her Mine
Banned
Like a Prayer (Madonna cover)
Bare to the Bones
Make Us Proud
Pleasure From Pain
Father I Have Sinned
The Dark Messiah
Armored Saint
Por ser um aquecimento para o fim de semana, os shows estavam concentrados apenas nos Hot Stage e Ice Stage, os palcos maiores do festival.
Após a apresentação das bandas mais novas, era hora dos veteranos do heavy metal assumirem o festival e começamos com Armored Saint.

Formada por: John Bush (vocais), Gonzo Sandoval (bateria), Phil Sandoval (guitarra), Joey Vera (baixo) e Jeff Duncan (guitarra), a banda é considerada uma das pioneiras do heavy metal clássico e está com a mesma formação desde o começo dos anos 90.
A banda sobe ao palco no começo da tarde e já encontra o Memorial da América Latina mais cheio de fãs animados para o show e curtindo cada momento.
Trazendo um heavy metal cheio de solos de guitarra e uma agilidade que é clássico do estilo, a banda agitou o Bangers e deixou os fãs de heavy metal muito satisfeitos com sua performance.
Única coisa que prejudicou um pouco esse momento marcante foi o som do microfone de John que estava baixo e acabou sendo abafado pelos outros instrumentos, mas isso não atrapalhou o magnetismo do vocalista que encantou a todos ali com seu carisma e animação. O vocal ganhou o público, além de sua voz magnífica, com seu entusiasmo de ficar indo de um lado para o outro, pulando junto as batidas da bateria e batendo cabeça.
Ele também desceu do palco durante Can U Deliver e foi até o vão que tinha entre a pista comum e o lounge para cantar junto com os fãs que estavam ali. O cantor percorreu toda a passarela para estar mais perto do público que estava mais ao fundo.
Foi uma aula de heavy metal para todas as gerações que se encontravam no festival e estavam unidos por um mesmo sentimento, o amor à música.

Setlist Armored Saint
March of the Saint
End of the Attention Span
Raising Fear
Long Before I Die
The Pillar
Last Train Home
Left Hook From Right Field
Standing on the Shoulders of Giants
Win Hands Down
Can U Deliver
Reign of Fire
Pretty Maids
Era hora de o Armored Saint deixar o palco e dar espaço para outros dinossauros do heavy metal assumir o posto, os dinamarqueses do Pretty Maids.

Formada por: Ronnie Atkins (vocal), Ken Hammer (guitarra), Allan Tschicaja (baterita), Rene Shades (baixo) e Chris Laney (teclado e guitarra).
Mesmo com mais de 50 anos de estrada, aquela era a primeira vez que a banda vinha ao Brasil, algo que foi citado algumas vezes pelo vocalista que sentia muito a banda ter demorado tanto para conhecer os fãs brasileiros.
Entretanto, essa ausência foi o gás necessário para a banda entregar um show energético e muito aprimorado para o público.
Além dos integrantes que atuavam de forma sublime com seus respectivos instrumentos, as luzes e a imagem ao fundo, que dava um ar urbano e estiloso para a banda, fazia parecer com um videoclipe de tão alta a qualidade do show.
Pretty Maids veio ali para mostrar que o heavy metal não tem idade e que não é uma fase que um dia irá passar. É um estilo de vida, é amor, personalidade e união. Que a idade não te impede de subir ao palco e entregar toda a sua dedicação à música e aos fãs.

Setlist Pretty Maids:
Mother of All Lies
Kingmaker
Rodeo
Back to Back
Red, Hot and Heavy
Pandemonium
I.N.V.U.
Little Drops of Heaven
Please Don’t Leave Me (John Sykes cover)
Future World
Love Games
Doro Pesch
Após conferir os clássicos da carreira do Pretty Maids, já era possível notar que o palco ao lado estava muito cheio de fãs disputando pelo seu lugar perto da rainha do heavy metal, Doro Pesch.

Confira nossa entrevista com Doro aqui.
Doro sobe ao palco para uma multidão de fãs ansiosos para vê-la e na expectativa de serem arrebatados por seu som intenso que fala sobre o amor à música e a dedicação ao heavy metal.
Os primeiros a entrarem são seus músicos: Bas Maas (guitarra), Nick Douglas (baixo), Danny Piselli (bateria) e o brasileiro Bill Hudson (guitarra). Eles têm a função de aquecer o público, que já está fervendo, para a entrada da rainha.
Quando Doro aparece, os gritos são ensurdecedores, todos estão curtindo o show de sua forma favorita. Seja cantando, batendo cabeça, pulando ou tomando uma cerveja enquanto apreciam a performance dos músicos.
E o que falar de Doro Pesch? Ser uma mulher no mundo do metal há mais de 40 anos não é uma missão fácil, mas Doro domina essa cena predominantemente masculina com maestria, simpatia e muito amor pela música.
A escolha do setlist é pensada especificamente para o público brasileiro, com canções rápidas e animadas, muitas músicas do Warlock, antiga banda de Doro e com uma homenagem ao Judas Priest que traz uma união entre Pesch e o fãs em um momento emocionante e inesquecível.
Além das músicas, Doro fala constantemente com o público brasileiro, ressalta que o Brasil é sua casa, que ela ama estar em terras brasileiras e que tocar para esse público é sempre algo que ela ama fazer. A cantora também arrisca algumas palavras em português, mas passa o microfone para Bill Hudson expressar sua gratidão e amor em nossa língua. O guitarrista conta que se sente honrado de estar ali ao lado de Doro e tocando no Brasil.
Independente de qual estilo você se identifica mais dentro do heavy metal, é consenso de todos a importância que Doro tem dentro do estilo. Mesmo até quem não conhecia aprofundadamente suas músicas, estava aproveitando cada segundo em que Pesch estava em cima do palco.
A cantora deixa o palco com a energia no mais alto possível, uma adrenalina contagiante dominando todo o espaço e nos mostrando porque ela mantém o título de rainha do heavy metal.

Setlist Doro Pesch:
I Rule the Ruins (Warlock cover)
Earthshaker Rock (Warlock cover)
Burning the Witches (Warlock cover)
Hellbound (Warlock cover)
Fight for Rock (Warlock cover)
Time for Justice
Raise Your Fist in the Air
Metal Racer (Warlock cover)
Für immer (Warlock cover)
Fire in the Sky
Breaking the Law (Judas Priest cover)
All We Are
Glenn Hughes
O show escolhido para ser headline da sexta no Bangers Open Air não foi qualquer artista, mas Glenn Hughes, o famoso baixista do Deep Purple.

No auge dos seus 73 anos, Glenn mostra que ainda é um menino em cima do palco, cantando e tocando baixo com a maior facilidade do mundo. Suas notas vocais agudas e prolongadas não eram um problema e ele fazia de forma leve e impecável, o que surpreendia a todos ali.
A técnica de seus músicos nem parecia um show ao vivo, tudo era feito com primor e milimetricamente perfeito. Já Glenn estava todo sorridente para o público enquanto entregava a todos uma exímia performance.
Porém, mesmo com toda essa perfeição e delicadeza, o show faltou o que faz a música ao vivo ser tão significativa e especial. Faltou vulnerabilidade, fervor, ímpeto, faltou algo que faça realmente ter valido a pena sair de casa e ver aquela experiência ao vivo.
A questão não é a performance de Glenn ou sua banda, mas o fato de termos passado o dia todo com bandas de estavam entregando uma energia lá em cima, era de se esperar que o headline acompanhasse essa intensidade. Contudo, a quebra no clima e energia do show foi muito abrupta e tivemos uma queda significativa na potência do dia.
Se Glenn entrasse no palco mais cedo, talvez antes do Pretty Maids, faria mais sentido para a nuance que o festival iria entregar. Fechando o dia com a Doro que deixaria o nível o mais alto possível e até impossível, aquela mulher consegue tudo.
Em frente ao palco era possível ver os fãs encantados com a performance e o talento de Glenn. Durante algumas músicas, fiquei atrás de Bruno Sutter (nosso querido Detonator do Massacration) que estava completamente extasiado com o show e algumas outras pessoas do lado dele compartilhavam desse sentimento. Porém, quando estava mais longe do palco, eu vi que o clima do público havia baixado significamente e as pessoas estavam mais aproveitando o momento do que realmente interagindo com o show.
A questão de ordem das bandas precisava ser mais pensada como um roteiro para seguir e entregar o clímax do show ao fim, do que a relevância de um artista (essa ideia de que o headline precisa ser mais famoso, ou conhecido). Isso é visível em alguns festivais que colocam bandas clássicas para tocar mais cedo e deixam artistas mais novos e não tão conhecidos para fechar.
Todavia, isso não tira a importância de ver um artista consagrado como Glenn tocando músicas de uma das bandas mais significativas da música, o Deep Purple.

Setlist Glenn Hughes:
Stormbringer (Deep Purple song)
Might Just Take Your Life (Deep Purple song)
Sail Away (Deep Purple song)
You Fool No One / The Mule / Guitar Solo / Blues / High Ball Shooter / You Fool No One / Drum Solo / You Fool No One (Deep Purple song)
Mistreated (Deep Purple song)
Gettin’ Tighter (Deep Purple song)
You Keep On Moving (Deep Purple song)
Burn (Deep Purple song)
Se a ideia do festival era que tivéssemos um aquecimento na sexta, as bandas entregaram algo muito mais fervoroso e significativo para todos e, com certeza, agitou os fãs dando um gosto do que estava por vir.
Créditos da foto de capa: Diego Padilha